O cinema é um instrumento cultural indispensável, uma vez que a difusão das obras audiovisuais permite reforçar as ligações culturais entre Espanha e Portugal, promovendo o cinema e a cultura. Através de um programa que reflete a riqueza e diversidade da cinematografia espanhola, esta mostra tem como objetivo situar o cinema espanhol mais perto do público português.
Este ciclo de Cinema é fruto da parceria entre a Fundação D. Luis I e a Seção Cultural da Embaixada de Espanha em Portugal, que disponibiliza para esta ocasião 6 filmes procedentes da Filmoteca da Aecid (Agencia Espanhola de Cooperação e Desenvolvimento).
CICLO DE CINEMA
Espanhol
CENTRO CULTURAL DE CASCAIS, 15 A 17 NOVEMBRO 2019
P r a z e r e s H i s p â n i c o s
Uma cinematografia pujante e multifacetada – onde cabem consagrados e malditos, lendas e marginais, heróis e vilões – que se soube reinventar ao sabor dos tempos e das vontades; uma indústria capaz de chegar aos mais variados públicos e de galgar além-fronteiras (pense-se, por exemplo, no número considerável de nomes, à frente e atrás das câmaras, que, durante o último quarto de século, tem dado cartas em Hollywood). Se quiséssemos entrar em comparações, seria caso para dizer: aqui tão perto e tão longe...
El Ángel Exterminador, 1962
Comecemos então este périplo pelo início, que corresponde também ao seu cume: "El Ángel Exterminador/O Anjo Exterminador" (1962) – 15 de Novembro; 21h –, de Luis Buñuel, um dos cineastas máximos da história da 7ª Arte e dos poucos a quem o epíteto de «génio» se aplica com inteira justiça. E o que é então esta obra-prima absoluta (numa carreira recheada delas)? Uma fábula perversa sobre uma classe encerrada nos seus preconceitos e valores? Uma alegoria de uma sociedade opressiva, que tanto poderia ser a franquista como qualquer outra de pendor autoritário e conservador? O retrato da tóxica cumplicidade entre poder e religião? "O Anjo Exterminador" pode ser tudo e nada disso, permitindo uma miríade de leituras e interpretações e convidando o espectador a perder-se jubilosamente nos seus labirintos. O fascínio do filme reside precisamente nesse mistério. Ou, nas palavras (perversas?) de Buñuel: «A melhor explicação para o "Anjo Exterminador" é que, racionalmente, não tem nenhuma».
El Verdugo, 1963
De um clássico para outro: "El Verdugo" (1963) – dia 16; 15h –, de Luis García Berlanga. Como disse Pedro Almodóvar, todo o cinema espanhol deriva de Buñuel e Berlanga, sendo estes os seus mestres incontornáveis. De facto, a causticidade do segundo não pede meças à do primeiro, ganhando até maior relevância se pensarmos que Berlanga fez todo o seu percurso sem sair de Espanha, o que lhe valeu muitos dissabores e dificuldades da parte de um regime avesso às suas sátiras sociais (desde logo, a primeira longa em nome próprio, o hilariante "Benvindo, Mister Marshall", de 1953). Exemplo máximo destas, "El Verdugo" conta a história de um pobre diabo (o italiano Nino Manfredi) que, para ter direito a um apartamento, se vê forçado a substituir o sogro (fabuloso José Isbert) no cargo de carrasco... Ataque à hipocrisia moral do fascismo (em que a morte é objecto de uma visão supersticiosa e retrógrada, mas, em simultâneo, assumida como algo natural quando «oficial» e exigida pela burocracia de um estado) aniquilador da vontade individual, constitui uma das mais ferozes – e divertidas – denúncias da pena de morte, sem pedagogias nem didactismos ocos.
Mi Gran Noche, 2015
"Mi Gran Noche" (2015) – dia 17; 17h30 – mostra o realizador em óptima forma, numa inspirada comédia negra que actualiza a velha dicotomia realidade/representação para a idade das novas tecnologias. Sob o signo do simulacro e do desvario (desde o primeiro momento, com o playback inicial e o acidente da grua que atinge um dos figurantes), o filme desenrola-se no espaço concentracionário de um estúdio de TV onde há já uma semana se grava, com antecedência q.b., um programa de Ano Novo, no meio de rivalidades entre apresentadores (marido e mulher) e vedetas (os cantores Alphonso – um sádico e egocêntrico veterano interpretado por uma verdadeira estrela musical, Raphael, em glosa saborosa da sua persona – e Adanne, um Adão «millennial» de libido insaciável e mente infantil que Mario Casas encarna na perfeição). Há ainda espaço para agentes anões, contrabandistas estrábicos, fãs encarniçados, filhos adoptivos que afinal não o são e fluidos corporais sequestrados, com o caos no interior do estúdio espelhado na turbulência dos piquetes lá fora, num delírio descabelado que De La Iglesia orquestra sabiamente, através de um carrossel de pares que acabam por se cruzar no fim (e onde figuram comparsas de sempre como o inseparável e insubstituível Santiago Segura, elemento primordial da família iglesiana). Irrisão a rodos – os números musicais são um mimo –, numa visão maliciosa e muito particular da falsidade e dissimulação do mundo da TV e do espectáculo que é também, naturalmente, uma reflexão sobre o cinema.
El Viaje de Carol, 2002
Felices 140, 2015
A Noiva, 2015
"A Noiva", por seu turno, lança-se a um monstro sagrado das letras espanholas, Federico García Lorca, numa nova versão cinematográfica da peça "Bodas de Sangue", que, entre outros, Saura já adaptara em 1981. Optando por uma narrativa não-linear, oscilando e dialogando entre presente, passado e futuro, e carregando na «ancestralidade» de uma história arquetípica (a noiva, o noivo, o pai, a mãe... apenas o elemento disruptor, Leonardo, tem direito a nome), o filme encena a sua curiosa variação do clássico triângulo amoroso de forma sensorial e sensual. Paixões irracionais, amour fou, clãs e fatalismo, tudo embrulhado num aproveitamento simbólico e expressivo da aridez das províncias de Saragoça e Huesca e do deserto turco.
Vasco T. Menezes
Dia 15 novembro 21h00 O Anjo Exterminador (El Ángel Exterminador), 1962, 90' de Luis Buñuel
Misteriosamente, após um luxuoso jantar oferecido pelos Nóbile, os convidados descobrem que, por razões inexplicáveis, ninguém consegue deixar a mansão. Ao longo dos dias que se seguem as máscaras criadas, em virtude das posições sociais, vão caindo quando todos se veem forçados a lutar pela própria sobrevivência... Com Silvia Pinal, Jacqueline Andere, José Baviera, Enrique Rambal e Augusto Benedico
Dia 16 novembro 15h00 O Carrasco (El Verdugo), 1963, 87' de Luis García Berlanga
José Luís é empregado numa funerária e sonha emigrar para a Alemanha para ser mecânico. A sua namorada é filha de Amadeo um carrasco profissional que obriga os dois jovens a casar por uma questão de honra. Como José Luis não tem meios para sustentar a mulher, o sogro, que está à beira da reforma, propõe-lhe que se candidate ao lugar de Carrasco que lhe dará direito a casa. Apesar de relutante José Luis acaba por aceitar o lugar convencido que nunca terá que exercer o ofício... Com Julia Caba Alba, Nino Manfredi, Emma Penella, José Isbert e José Luiz López Vazquez
Dia 16 novembro 17h30 A Viagem de Carol (El Viaje de Carol), 2002, 104' de Imanol Uribe
Carol, uma adolescente de mãe espanhola e pai norte-americano, piloto das Brigadas Internacionais, visita pela primeira vez Espanha com a mãe, em 1938. Quando chega à casa onde a mãe cresceu apercebe-se de que a família materna vive sob o jugo dos convencionalismos mas que esconde muitos segredos. De caráter rebelde Carol opõe-se à rigidez de costumes que lhe são alheios. Através da cumplicidade com Maruja, da sabedoria do avô e o seu amor por Tomiche, Carol inicia uma viagem que lhe abrirá as portas para um universo de sentimentos num trajeto interior inolvidável. Com Clara Lago, Juanjo Ballesta, María Barranco, Rosa Maria Sardà e Álvaro de Luna
Dia 16 novembro 21h00 A Noiva (La Novia), 2015, 93' de Paula Ortiz
Desde pequenos que Leonardo, a noiva e o noivo formam um triângulo inseparável mas, quando se aproxima a data do casamento, a situação complica-se porque entre Leonardo e a noiva sempre houve mais do que amizade. A tensão entre ambos é como um fio invisível que não se pode explicar nem romper. Com Inma Cuesta, Álex García, Asier Etxeandia, Luisa Gavasa e Carlos Álvarez-Nóvoa
Dia 17 novembro 15h00 Felizes 140 (Felices 140) 2015 98' de Gracia Querejeta
Elia celebra 40 anos e decide reunir família e amigos numa luxuosa casa rural. Tem algo de muito importante para dizer-lhes e com a chegada de um convidado surpresa pode provocar uma mudança radical no ambiente entre todos. Com Maribel Verdú, Eduard Fernandéz, Antonio de la Torre, Nora Navas e Paula Cancio
Dia 17 novembro 17h30 A Minha Grande Noite (Mi Gran Noche), 2015, 93' de Álex de la Iglesia
Um programa especial de Ano Novo é gravado antecipadamente e José é enviado pela sua agência como figurante. Cantores e apresentadores estão todos juntos na disputa de atenção e estrelato, enquanto centenas de pessoas fingem desesperadamente rir e celebrar o novo ano durante uma semana e meia. A grande rivalidade entre dois cantores, Alphonso e Adanne, e dos dois apresentadores atinge o auge da competição e dissimulação por trás das câmaras. Mas o que ninguém sabe é que a vida de Alphonso corre perigo. Com Mario Casas, Blanca Suaréz, Carolina Bang, Raphael e Hugo Silva
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