ROSA RUBIO
Praxis
CENTRO CULTURAL DE CASCAIS, 21 SETEMBRO A 24 NOVEMBRO
é sempre a simplicidade que gera o maravilhoso
Praxis: entre o Céu e a Terra surgiu como resposta a um acto pessoal que me fez aprofundar os conceitos ancestrais do bom e do mau, da terra e do céu, do divino e do humano, das boas e más acções, das virtudes e dos pecados capitais. Um mundo apaixonante mas confuso e ambíguo.
Praxis é um trabalho multidisciplinar, que tem como protagonista o símbolo do círculo, o fio condutor deste projecto. O círculo como representante principal da unidade, do absoluto e da perfeição; o símbolo do céu em relação à terra, do espiritual em relação ao material.
O Sol, criador da luz e senhor do fogo da vida, tem forma de círculo, elemento crucial para a existência.
O círculo é a forma que contém as demais, o "Ovo Cósmico", a eternidade.
Numa leitura mais objectiva, representa o poder do feminino, receptivo, a matriz da Criação a partir da qual se manifesta a divindade, cuja criação regula e ordena. Coincide com a dualidade homem/mulher do ser humano, na qual o homem representa arquetipicamente o portador da semente e a mulher representa a mãe, a matriz ou base, útero e óvulo. É na mulher, pelas suas formas físicas, que este símbolo melhor alcança a sua redondez, sendo, em si mesmo, um reflexo da terra, do celestial, de Deus ou da alma.
A Espiral é outro elemento central no meu trabalho, através do qual represento o céu, o nascimento, a morte e o renascimento. O Sol é o símbolo da mais grandiosa espiral, já que nasce todas as manhãs, morre depois do entardecer e renasce no dia seguinte. A espiral como a forma da força vital, o crescimento e o positivismo.
Em Praxis, a espiral tem a carga representativa do infinito e do eterno. É a minha rotação criativa. A fertilidade é o começo e o fim, o nascimento, a finitude, a transformação. Uma viagem mágica rumo à vida eterna.
Mas na busca da boa ou má acção, do eterno ou terreno, e sempre sob os símbolos do círculo ou da espiral, cheguei aos "sete pecados capitais" e, por conseguinte, às suas "sete virtudes."
O número sete é considerado o número da reflexão, do aperfeiçoamento, da espiritualidade e do bom agouro. Carrega a parte sagrada, enlaçando o divino e o humano, formado pelo número três (a Divina Trindade) e pelo número quatro (os Elementos Terrestres). Em numerología, o sete ensina-nos a descobrir a nossa unidade interior, a encontrar o equilíbrio entre a alma e o corpo.
Os sete pecados capitais: luxúria, ira, soberba, inveja, avareza, preguiça e gula. Quem pode afirmar não ter caído na tentação de um pecado capital?
E as sete virtudes: sobre a soberba, a humildade; contra a luxúria a castidade; contra a gula a temperança; para a avareza, a simplicidade; para a inveja, a caridade; sobre a ira, a paciência; e contra a preguiça, a diligência.
O Sal, elemento sanador dos pecados, substância cristalina, oferenda aos deuses, condimento essencial na vida, elemento para deter o processo decompositor dos alimentos, elemento purificador por excelência. O sal e o perdão... o salutífero.
As cores usadas em Praxis – vermelho, preto e branco – são as mesmas que intervêm em trabalhos anteriores. O vermelho como representação da força e da sensualidade, o preto como o misterioso e o profundo, e o branco como a pureza e o bem-estar.
Nelas encontro o refúgio perfeito para os meus pensamentos. Depois, dou-lhes formas. Chego a uma iconografía de pontos infinitos, cabeças gigantes sem rosto, bolas emaranhadas em tranças impossíveis, fundos celestiais com formas mágicas, e uma constante e subjacente imagem do feminino nas minhas obras.
A referência à mulher é subtil mas constante. Umas vezes desenhada com três simples pontos sob um mar de vermelhão, outras com um vermelho lascivo, por vezes assume a forma de mantos ou flores abertas que olham para o infinito e, outras vez, uma forma triangular voluptuosa, que deixa entrever o mais íntimo.
A arte não tem sexo, não conhece fronteiras, não tem limitações, não tem tempo, não tem idade.
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